domingo, 1 de agosto de 2010

Um novo amigo que recebi na minha casa e oficina!!!!

Caros Amigos,

Nesse final de semana tive o prazer e honra de receber em minha casa e oficina pra um "workshop" um novo amigo pra compartilhar um pouco do que sei e aprender mais.
 O amigo Roberto Lisboa é proveniente de Natal-RN e um apaixonado por cutelaria. Veio pra ver, aprender e forjar peças nos moldes que eu aprendi com o pessoal da SBC e cuteleiros do quilate do Ricardo Vilar e demais cuteleiros experientes ligados a Sociedade Brasileira dos Cuteleiros.

A minha proposta nesses "workshops" é tentar ensinar e mostrar informações importantes pra quem deseja entrar no mundo da cutelaria de excelência (no qual eu, insistentemente, tento entrar kkkkkk)

São abordados os temas de metalurgia, características dos aços empregados em cutelaria, tratamentos térmicos, forjamento, desbaste, acabamentos, desenhos, geometria de lâmina e demais assuntos correlatos à cutelaria.
Mas o enfoque é FORJAR!

Tudo é feito com uma abordagem a mais prática e acessível possível, tentando fazer com que o "aluno" absorva o maior volume de informações no momento e as use na sua oficina futuramente.

O método de instrução que adoto é a explanação teórica seguida da prática (por demonstração) que, em seguida, o aluno com supervisão, passa a executar.

Já na sexta-feira, depois da parte teórica de praxe, começamos o forjamento de peças. Sempre inciando por facas básicas como as clássicas hunters.




O aço escolhido pra confecção de todas as facas foi o 5160.  O 5160 (norma SAE) é uma aço que possui 0,60% de carbono na liga, é bastante tolerante com erros de forjamento e têmpera, fácil de moldar e, ainda, possibilita a construção de lâminas excepcionais cuja capacidade é excelente. Embora haja uma certa "preferência" pelo 52100 aki no Brasil, o 5160 tem características bastante atraentes. Nos EUA ele é, inclusive, uma aço mais caro que o 52100 e nas provas de corte geralmente as lâminas de aço são as vitoriosas.

Se vc vai forjar, oS óculos, avental de couro e luvas são equipamentos muito importantes. A ausência deles pode facilitar a ocorrência de acidentes sérios. Lembre que todo os processos de forjamento envolvem, no mímino, AÇOS INCANDESCENTES. Então USE EPI´s sempre!

No processo do final de semana foram produzidas as lâminas abaixo que, a rigor, são do aluno. Eu geralmente guardo uma peça pra mim como recordação que depois  finalizo e exibo aki

Acho mais didático, para o iniciante, forjar facas pequenas (3 a 5") a partir de espessuras menores. Creio que a medida de 1/4" (pouco mais de 6 mm) é bem interessante e versátil. Mas após forjarmos algumas peças com 1/4" é bom mostrar como é forjamento de algo mais "parrudo". A escolha recaiu sobre uma barra de 5160 com 3/8" (aprox. 10 mm) da qual resultou essa bowie que está no topo da foto que tem algo em torno de 11" de comprimento.

Quero ressaltar que o Roberto Lisboa, apesar de ter praticamente nenhum conhecimento pregresso sobre forjamento revelou uma boa grande dose de tenacidade e habilidade. Após a demonstração conseguiu fazer suas peças praticamente sozinho. Provavelmente logo teremos outro forjador com oficina aki pelos lados do Nordeste!

Desta vez tive oportunidade de registrar FOTOGRAFICAMENTE uma etapa crucial do aprendizado da cutelaria.

Muito se fala sobre "grão" do aço e este é, de fato, um conhecimento extremamente relevante mas muito subestimado. De nada adianta fazer a faca mais linda e harmônica se no processo de forjamento, têmpera e revenimento  foram cometidos erros que levaram à formação de um grão inadequado à uma boa faca.

Uma das finalidade do forjamento é "refinar" o grão do aço. Deixá-lo menor e mais adequado às tarefas que irá desempenhar. É preponderante que o cuteleiro/forjador conheça as características do aço que usa assim como que domine as técnicas de tratamentos térmicos usados no forjamento, têmpera e revenimento.



A questão mostrada é a "ALTERAÇÃO" radical que o calor na medida errada pode produzir na estrutura do metal.
Utilizei uma lima (aço 1095) como corpo de prova. Esta foi aquecida ACIMA DO PONTO CRÍTICO (ponto de têmpera) e resfriada no óleo hidráulico. Em suma, a peça foi superaquecida e posteriormente quebrada.
Em seguida foi feita a normalização do corpo de prova e, logo depois, uma nova TÊMPERA NA TEMPERATURA CORRETA, seguida de uma nova quebra.

O resultado pode ser facilmente vísto na diferença do "grão" do aço na foto abaixo. Numa o grão está "enorme" e bem visível. Na outra a estrutura é fina e homogênea. Esta estrutura homogênea é mais aprimorada ainda pelo revenimento bem feito. O DESCONHECIMENTO dessa informação fatalmente leva à construção de lâminas ou ferramentas de qualidade muito inferior à obtida com os procedimentos corretos de manuseio do aço.

Como "curiosidade" decide mostrar como se forja um tipo bem peculiar de faca, a "rat tail". Trata-se de uma peça composta, unicamente, de aço forjado onde a "empunhadura"  é moldada a quente a partir da tang bem alongada. Requer alguns cuidados e uma certa habilidade... As rat tails, diz a lenda, eram facas característicamente domésticas dos povos nórdicos, geralmente usadas pelas "Sras. Vickings" em suas atividades cotidianas. São facas divertidas de fazer onde podemos "brincar" com o aço incandescente...

O Roberto Lisboa demonstrou uma cortesia singular para com a minha família. Mesmo tendo vindo de ônibus de Natal se deu ao trabalho de trazer alguns frutos do mar de excelente qualidade. Como gentileza se paga com gentileza. Aproveitamos o processo didático pra levar a termo esta rat tail que lhe foi dada como lembrança que, espero lhe sirva muito bem.

A bainha é de couro de búfalo com cobertura de cascavel (dos EUA!!!)

Espero que tenham gostado deste post e obrigado pela paciência ao lerem!!!

Um abraço a todos e uma boa semana

4 comentários:

  1. Post de excelente qualidade e bastante didático. O que torna interessante mesmo para leigos. As fotos estão muito boas, com destaque para as que exemplificam a diferença na organização geométrica dos "grãos" no aço sob diferentes temperaturas. É válido, claro, mansionarmos também a importância de se difundir o conhecimento, trocar experiência de vida e expandir nossos círculos de amizades. Mas faltou uma foto do aluno com o mestre.

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  2. Caro amigo, devido a correria apenas hoje pude verificar o blog.

    Antes de mais nada quero que saiba, sem sombra de dúvida que o fim de semana foi muito proveitoso, você é uma pessoa muito bacana, um cara simples e bastante acessível, que tem o prazer de repassar os conhecimentos adquiridos.

    Os cuteleiros e/ou apreciadores da cutelaria precisam conhecê-lo, és um excelente artista, mas acima de tudo um grande amigo, que principalmente é paciente e possui uma boa didática.

    Um grande abraço, muita paz e sucesso.

    Aos interessados em cutelaria o work-shop vale muito a pena, vale cada centavo pago, pois além de aprendermos muito com o instrutor, a copanhia do mesmo é bastante agradável.

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  3. Olá que belas fotos...
    Trabalho em um projeto na cidade de Belo Horizonte - MG e estamos produzindo um CD ROM sobre o avental de couro, peça exposta no Museu de Artes e Ofícios de BH. Esse CD ROM será destinado para escolas públicas que utilizaram para visitas no museu. Gostamos muito das fotos expostas nesse blog e gostaríamos de saber se vocês estão abertos a disponibilizarem as imagens para colocarmos com as devidas referencias nesse CD ROM, qual valor vocês cobrariam para uso da imagem ou se cederiam.
    Nosso e-mail é tematizandoficios@gmail.com


    Aguardamos Retorno

    Kelly Freitas

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  4. Fico muito honrado com a proposta e me colocao à sua inteira disposição.
    Cobrar pelas fotos é impensável. Educação é o maior legado que podemos deixar pras nossas crianças.
    Pra maiores esclarecimentos escreva pra lcaserapiao@gmail.com

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