Neste recente final de semana (24 a 26/Maio) tive o prazer de receber os Amigos Roberto Lisboa e Orlando Cunha Medeiros, vulgo COCÃO, que vieram de Natal-RN para uma troca de conhecimentos sobre cutelaria aqui em Garanhuns.
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Roberto Lisboa e Orlando Cunha Medeiros (Cocão) |
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Uma "preocupação" foi o teto baixo da oficina... O Cocão é uma grande pessoa em todos os aspectos!!!! |
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Sempre traz grandes responsabilidades a decisão sobre "instruir" alguém em determinado assunto. Sobre cutelaria não é diferente. Ao contrário, os vínculos formados nesse ambiente (entre pessoas sérias e honradas) são duradouros e forjadores de grandes amizades.
A idéia inicial deste encontros é mostrar como fazer uma faca artesanal por forjamento (sem, contudo, relegar outras modalidades como o desbaste ou confecção de facas a partir de peças previamente cortadas), explicando peculiaridades do processo, demonstrando o forjamento, desbaste, têmpera, revenimento e demais processos que nos levam a obter uma boa faca artesanal.
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Faca executada como exemplo - Utilitária de aço 5160, com guarda de inox e cabo de madeira de lei |
O desenho escolhido é de uma faca relativamente simples mas que engloba, didaticamente falando, os conceitos que norteiam uma boa faca artesanal. Nesse caso, uma faca hiden tang de aço carbono 5160, feia a partir de um pequeno pedaço de 5/16 x 38 mm x 120 mm, usando inox como material de guarda, um bloco de madeira de lei para o cabo.
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Materiais disponibilizados para a instrução - pedaços de aço 5160 de 5/16, pedaços de inox, blocos de madeira de lei, corpos de prova para treinamento de desbaste, e têmpera, além de EPI´s individuais. |
Após uma explicação introdutória sobre peculiaridades da cutelaria, com ênfase no forjamento, vamos por "a mão na massa" literalmente, e FORJAR. A primeira peça foi feita por mim como demonstração das etapas e técnica escolhida. Obviamente há diversas maneiras de forjar uma faca, escolhi a que me parece mais didática e adequada ao aprendizado.
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Forja à gás com manta refratária - na minha opinião a que tem a melhor relação/custo beneficio pra essa atividade. |
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Eu sempre digo aos amigos que me visitam que forjar é a parte "fácil" da coisa kkkkkk |
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O trabalho físico e o calor são intensos mas o bom-humor dos amigos torna tudo mais fácil. No caso, o caro Roberto Lisboa "incentivava" o amigo Cocão o tempo todo!!! Ri muito com as brincadeiras de ambos. |
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Facas forjadas na primeira etapa - Apenas UMA delas foi forjada por mim. |
Após observar a demonstração inicial, o aprendiz se mostrou extremamente habilidoso e tenaz forjando seguidamente três belas facas. Uma delas será a "faca/modelo" levada a termo conforme o projeto inicial. Conforme a explicação incial, são realizados, logo após o forjamento, os processos de NORMALIZAÇÃO e RECOZIMENTO, que deixarão o aço em sua condição ideal para as etapas seguintes. Após, a normalização, as peças ficam no forno de temperatura controlada, esfriando até o dia seguinte. Neste ínterim é hora de se familiarizar com a lixadeira (modelo KMG) que será usada e treinar desbaste com os corpos de prova previamente selecionados pra isso.
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Lixadeira KMG da DAF Abrasivos e uma "KMJegue" do Elmício/Leonardo de Campinas |
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O contato inicial com uma lixadeira é importante pra mostrar que, além de ter uma boa ferramenta, é necessário dominá-la. Nunca se deve tentar suplantar a falta de habilidade com uma boa ferramenta. Deve-se procurar DESENVOLVER a habilidade para se tirar proveito da ferramenta que se tem disponível. |
Após os processos de FORJAMENTO, NORMALIZAÇÃO E RECOZIMENTO, é hora de passar para a usinagem, propriamente dita. Nesta etapa, são assentadas as "bases" da faca. Paralelismo do ricaço, transição ricaço/gume, "ombro" da faca, "distal taper", "full flat" são termos que passam a ser melhor compreendidos quando executados na prática. O treinamento prévio como os corpos de prova ajuda a minimizar os erros que poderiam por a perder a faca laboriosamente forjada.
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3 peças usinadas e prontas para as etapas seguintes |
Vale ressaltar que, não importa quanto equipamento se tenha, uma boa faca artesanal sempre exigirá uma GRANDE dose de trabalho manual. Os acabamentos mais importantes, os que demonstram cuidado por parte do cuteleiro, são todos feitos à mão com instrumentos bem simples (tiras de lixa, pequenos pedaços de madeira, borracha e outros "acessórios") e MUITA paciência.
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Lixando para tirar os riscos do lixamento da lãmina |
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Acessórios simples como o "cubo" e pedaços de lixas são usados nesta etapa |
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Eu, lutando com o meu problema de "braço curto" kkkkk |
Depois de levar as peças a um certo nível é hora de passar para a TÊMPERA que visa transformar a AUSTENITA do aço em MARTENSITA através de uma mudança brusca de temperatura.
Fui criando ouvindo dizer que "só se aprende a fazer fazendo", e assim é!!! Portanto, nada melhor que treinar pra maximizar as chances de sucesso. A têmpera é uma etapa crucial na confecção de uma boa faca artesanal. Nas minhas facas tenho preferência pela TÊMPERA SELETIVA da lâmina onde o gume é aquecido até o ponto crítico, deixando-se o dorso fora desta faixa, e resfriado abruptamente (uso óleo hidráulico). Dentre outras coisas a peça assim obtida terá dureza e retenção de fio aliadas a um dorso macio que a capacitará a suportar um grande stress. Mais uma vez, os corpos de prova serviram neste momento. Foram usadas lâminas de diversos formatos e tamanhos diferentes. O sucesso de uma boa têmpera seletiva depende muito da habilidade do operador e esta habilidade requer alguma sutileza, atenção e MUITA prática.
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Têmpera Seletiva na "boca" da forja |
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Após observar, FAZER. |
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Após a têmpera bem feita, já é possível observar a LINHA DE TÊMPERA formada na lâmina. |
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Depois de temperadas e polidas novamente, as peças seguem para o REVENIMENTO em forno de temperatura controlada, cuja finalidade é reduzir a dureza da lâmina ao mesmo tempo em que aumenta a tenacidade e, ainda, continua a transformar a austenita retina na peça em martensita que é a estrutura ideal para o gume da faca. No revenimento, as lâminas são colocadas em forno de temperatura controlada na faixa específica do aço usado (no caso o 5160), por dois ciclos consecutivos de 1 h cada. (Cada cuteleiro tem a sua preferência).
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Peças prontas com guarda e cabos escolhidos de acordo com as preferências deu uso e materiais diponibilizados |
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De cima pra baixo - Gonçalo Alves, Jacarandá Tulipa e "Coroa de Cervo Axis" |
Os demais componentes da faca, Guarda Simples e Cabo, são executados conforme desenho previamente estabelecido. Os processos de escolha do modelo, desenho e confecção são explanados de modo que se possa repetir o processo oportunamente. Desta feita foram confeccionadas mais duas peças além da "faca/modelo". Orlando, que tem vasto conhecimento na área gastronômica e no trato de carnes, idealizou e forjou uma peça específica pra essa função, mesmo mantendo o look de utilitária.
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Desenho idealizado e peça forjada pelo Orlando |
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A madeira escolhida foi o Jacarandá-Tulipa que, após fixada na faca, é usinada até o formato final. |
O trabalho realizado durante este período teve como resultado um grande aprendizado mútuo e uma nova e promissora amizade, além das facas abaixo:
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Facas forjadas de 5160 com cabos de madeiras de lei e chifre de cervo axis |
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Modelo idealizado por Orlando Cocão - Basicamente uma Hunter Sendero s/guarda. Com insert de madrepérola |
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Faca/Modelo confecionada conforme projeto inicial - Cabo de Gonçalo Alves com pino mosaico de 1/8". |
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Deixo aqui o registro do amigo Orlando Cocão com a "faca/modelo e a peça de sua lavra a qual, por solicitação dele, levou o meu cunho apesar de feita com apenas uma pequena supervisão minha. Orlando demonstrou um zelo, meticulosidade e habilidade memoráveis. Creio que, em breve, veremos ótimas peças de sua autoria. Serão as facas "FRIÊNDI DELIVERY Cocão" como ele gosta de dizer!!!!
Obrigado pela visita e voltem sempre!!!!
O melhor de tudo está na legenda de uma foto: "Após observar, FAZER"
ResponderExcluirAmigo você além de um excelente artesão é também um grande escritor, parabéns estou muito feliz por tudo, a nova amizade, as brincadeiras, foi um fim de semana muito aprazível.
ResponderExcluirDentro em breve estaremos lhe perturbando novamente, um grande abraço, grande mestre que Deus o abençoe sempre.
Onde adquirir ,no Rio de Janeiro, suas facas de cabo de madeira de lei?
ResponderExcluirOnde adquirir facas artesanais de cabo de madeira-de-lei , no Rio de Janeiro?
ResponderExcluirboa tarde. eu tbm estou na tentativa ainda mais que tenho as mãos e uma marreta mais se Deus quise chego la.. e mesmo sem conhecer vc fico feliz pela sua conquista e agradeço por ter deixado o contato do Vicente em breve entro em contato com ele... forte abraço e parabens pelo belo trabalho..e tbm agradeço as dicas .. pretendo ir em algum evento mais nao sei onde e nem quando vai ter algum se puder me avisa fico grato meu email é tarcisiotatoo@gmail.com ...Abraço e sucesso sempre
ResponderExcluirComo podemos ter acesso a bons cursos no Nordeste? Sou paraibano e tenho interesse em iniciar na cutelaria artesanal.
ResponderExcluirO professor Gerson Bragnolli montou uma escola de Cutelaria na Paraíba. Eu moro em Garanhuns. Se puder ajudá-lo, estou às ordens.
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