sexta-feira, 30 de abril de 2010

Camp Knife Brut di Forge c/ Ébano e Cobre

Caros Colegas e Amigos,

Postei a algum tempo algumas peças que perdi por acidente (imperícia, imprudência, ou azar mesmo...) Durante o processo de tempera. Cinco boas e difíceis facas foram perdidas. Eu acredito que, em termos de facas, quando perco uma peça tenho a chance de fazer outra melhor. Foi o que tentei fazer nessa.
A Antecessora desta Camp era uma integral full tang tbm brut di forge. Mas, depois de perdê-la, tive outras idéias...
Fazer uma Camp "Puro Sangue" mas com um look mais antigo. Eis o resultado.
 Espero que gostem.

A idéia foi fazer uma peça que fosse robusta, como toda camp deve ser, mas que tivesse um "ar antigo". Então pensei em forjar uma brut di forge com lâmina bowie (Gosto muito de Bowies) com algum material que remetesse ao passado. Então decidi juntar, aço 52100 texturizado, cobre puro partelado (bolsters) e ébano tudo isso numa faca full tang. A faca em si tem 12" de lâmina com double taper, 7,5 mm de espessura, bolsters de cobre assim como os pinos (com miolo de niquel) e passador de cobre. As talas são de ébano.
A bainha é de couro de búfalo com o qual pretendo trabalhar de agora em diante.



Foi uma peça bastante trabalhosa mas que gostei bastante de fazer. Espero que tenham gostado do trabalho e obrigado por olharem. Voltem sempre!!!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Duas Hunters e uma Skinner by Serapião

Caros Amigos,

Como disse nos episódios anteriores... Agora é tempo de materializar e priorizar as peças atrasadas. Torcendo pra conseguir fazer sempre peças elegantes, singulares e bem feitas... Esse é o propósito do trabalho.

As peças a seguir são uma mistura de coisas antigas e novidades...

Duas Hunters e uma Skinner.


A primeira delas é uma skinner feita de lima com lâmina que lembra a nesmuck. Embora particularmente eu prefira skinners com ponta mais aguda. Essa configuração é consgrada pelo uso e muitos usuários a preferem em detrimento das demais. Este chifre de cervo axis estava guardado desde o ano passado esperando a peça e a habilidade pra ser usado. Não é muito texturizado mas bastante maciço. O resultado, achei, foi bem agradável.
A faca tem 4" de comprimento de lâmina, c/ 6 mm de espessura e um distal acentuado. A têmpera seletiva produz uma linha viva quando revelada com percloreto. O cabo é um pouco maior que a lâmina pra possiblitar que gente como eu (com mãos de ogro) usem bem essa pequena faca, além de ter um file work no dorso por 1" pra ajudar no apoio dos dedos. A bainha é de couro de bode estampada com uma ferramenta de padrão "basket" que o amigo reginald me enviou e foto e pude fazer a minha.

A 2a faca é uma hunter de 52100 na qual utilizei um pedaço de chifre "premium" que me foi presenteada pelo Mestre Ricardo Vilar quando estava em Sorocaba. A faca tem algumas peculiaridades como o dorso e a parte abaixo do ricaço arredondados pra torar o apoio dos dedos mais confortável. A peculiaridade é que tanto o pomo quanto o ferrule são escavados pra casar com as ranhuras do chifre. Uma baita trabalheira pra, além de fazer as ranhuras casarem, dar o acabamento depois da peça fixada e colada... Mas... se eu gostasse de coisas fáceis não seria cuteleiro!!!! Essa hunter tem 5" de lâmina, têmpera seletiva e 5 mm de espessura.

Esta última faca é, tbm, uma hunter. Deveria ter sido levada pro Salão de Cutelaria de SP no ano passado. Mas não foi possível. Não consegui terminá-la a tempo. Foi feita pensando em animais maiores assim como a adição do pomo visa dar suporte a eventuais batidas no cabo da faca. Principalmente quando é preciso "desnucar" a presa... O que acontece frequentemente. Também estreei nessa faca uma Rádica de Ipê (não conhecia esta variedade). Ela parece bastante com a rádica de imbuia na beleza mas é bem mais resistente que esta última o que a torna interessante pra cabos de Facas. Esta madeira me foi fornecida pelo Marco Borchardt.
A faca tem 16 cm de lâmina, 4 mm de espessura no ricaço, cabo de rádica de ipê com papel vulcanizado, Pomo e guarda de inox. A bainha, como já advinharam, é de couro de bode...

Obrigado a todos por virem aki. Aguardem os próximos episódios.
Um bom feriado a todos.!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

The Day After....

Caros Amigos,

Estive bastante ocupado após o "Causo da Solução de Polímeros" por isso a ausência dos últimos dias.

Eu passei todo esse tempo treinando mais o que aprendi. Tentando melhorar e dominar a têmpera dos aços-carbono. Enfim... respondendo perguntas. Continuei forjando e forjando.
Uma das peças que fiz nesse processo foi uma bowie Cowboy que havia tempos queria fazer.
 É uma peça curiosa pra se forjar pois tem que ser forjada de trás pra frente. A faca é mais estreita perto do ricaço que na ponta, onde enlarguece (como se pode ver na foto). É uma faca grande de 12,5 " de 52100
.

Continuei os estudos pois pra mim é muito difícil me concentrar em encomendas de clientes quando tenho perguntas na cabeça.... Tenho que ter a certeza de que posso fazer o trabalho da melhor maneira possível. Senão nada feito!!!!

Resolvi, por fim, pra fechar um ciclo de aprendizado, fazer uma faca nos mesmos moldes que aprendi no Estágio com o Ricardo Vilar. Fazer uma boa faca do zero no menor tempo possível. Otimizar as etapas de produção sem errar. O resultado foi a peça abaixo:




É uma utilitária grande de 9" cuja proposta é ter uso diversificado entre camping, caça e pesca.
A empunhadura é de Gonçalo Alves com espaçador de chifre de cervo áxis e papel vulcanizado. Guarda de Inox e pino de tubo de cobre com inox.
De agora em diante... vou me dedicar às encomendas que tenho e espero poder mostrar aki uma sucessão de bons trabalhos.

Obrigado por olharem e um abraço a todos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O "Causo" da Solução de Polímeros

Caros amigos,

Estive um pouco ausente do blog desde que cheguei de SP devido a trabalhos acumulados, coisas novas que tive que implementar, enfim... daquela imensidão de coisas que sempre se acumulam na nossa ausência. Na volta tem-se que por a casa... Não... a casa está em ordem!!! Mas a oficina...

Como nesses últimos dias passei por uma experiência com uma nova substância usada pra têmpera resolvi contar aqui pra que outros possam se beneficiar, ou não, do acontecido.

Lendo os posts do Fórum onde boa parte dos integrantes da SBC postam tive conhecimento de um novo material usado como meio refrigerante para têmpera. Trata-se de uma suspensão de polímeros que, quando aquecidos a mais de 75 graus celsius, aderem ao material aquecido criando um "envelope". Este envelopamento faz com que a transferência de calor seja gradual possibilitando a têmpera do metal. As vantagens dele sobre o óleo são que não faz fumaça, não pega fogo e a peça sai bem mais limpa do que normalmente ocorre no óleo. (hidráulico no meu caso). Como também fiquei sabendo que outros cuteleiros bem mais sabidos que eu já estavam usando esse meio refrigerante, resolvi testar. Some-se a isso que minha oficina é "colada" na casa (garagem) e a ocasional fumaça da têmpera incomodava  bastante... Se o material não produzisse fumaça já valeria à pena...

Um amigo de SP, O Emilcio, me enviou uma quantidade suficiente pra encher o meu recipiente de têmpera (uma velha pia de ferro fundido) e fiz a diluição (pois o produto é uma suspensão oleosa cor de guarana e tem que ser diluído em água) recomendada. Os primeiros testes foram com peças de 1095 pequenas e gostei bastante. A peça saiu limpa do meio com linha de têmpera bem visível mesmo antes de ser limpa...

Passada uma semana, continuei trabalhando...
Após terminar uma grande faca integral full tang que foi toda texturizada á mão chegou a hora da têmpera que seria feita na forja... Feitos todos os procedimentos usuais. Poucos segundos depois que faca foi colocada na suspensão de polímeros ouvi um "Crack"... Já tive um mal pressentimento... Ao olhar a peça... Tinha uma trinca... Não!!! Uma rachadura... Bem... sabem como é.... Depois dos palavrões de praxe (que ninguém é de ferro!!!) me acalmei e passei a analisar o ocorrido.... Deduzi ter sido "erro do operador" e passei adiante. Coisas da Cutelaria. Um outro amigo me disse: "Cuteleiro é bicho que sofre sozinho!!! Ninguém vê os apertos que a gente passa na oficina pra produzir um bela faca!!!". E ele tem toda razão...

Mais dois dias e finalizei 6 peças que estavam em ponto de têmpera... Facas de 1095, Uma bowie integral full tang COM GUARDA de 5160 (foto) A tang tinha sido reforjada pro formato final....

Mais duas peças de aço 1095, forjadas de lima e outras de 52100... Nas primeiras peças não houve problemas... Mas na hora da têmpera da bowie... RACHOU DO MESMO MODO QUE A OUTRA INTEGRAL!!! Pra minha infelicidade... Perdi um bom tempo de trabalho e uma peça difícil de recuperar pois teve a guarda caldeada... Se fosse só isso... Mas mais duas peças tbm tiveram problemas...
Em RESUMO: em 3 dias de trabalho perdi mais peça por trincamento que em dois anos... Aí fui buscar ajudar pra entender o problema... Com o Emilcio que entende muito de metalugia e matérias afins, o Ricardo Vilar que nem se fala e o Ferrari que sempre dá dicas muito boas.

Todas as facas que trincaram foram quebradas e verificou-se o grão. Este estava homogêneo não indicando sobreaquecimento... MAS POR QUE ALGUMAS FACAS TRINCARAM E OUTRAS NÃO???

Após receber várias orientações do Mestre e amigo Ricardo Vilar foram apontadas algumas possíveis causas...
 Dentre elas o uso da solução com densidade baixa... OU seja o óleo não estaria diluído na proporção correta.
Eu achei mais viável essa hipótese... E, contando com a prestimosa ajuda do Emilcio que me forneceu o material, foi acionado um pessoal técnico que usa este produto em larga escala... Resultado???

O FLUIDO USADO FOI DILUÍDO EM PROPORÇÃO INADEQUADA PRA TÊMPERA NA FAIXA DE CALOR USUAL DOS AÇOS PRA FACAS!!!! A baixa densidade fez com que a troca de calor fosse muito brusca causando a fratura do material.

E por que algumas peças trincaram e não todas???

PORQUE se vc aquecer um pouco menos a peça este calor será repassado ao líquido de forma menos brusca e não ocorrerão trincas... Ou seja, numa faixa um pouco mais baixa de temperatura, também o ocorre o processo... É bastante interessante... O conhecimento que um erro pode proporcionar!!!

Em laboratório de Metalurgia o Emilcio fez testes com corpos de prova de 52100 aquecidas em forno apropriado e ficou constatado que a solução IDEAL PARA AÇOS-CARBONO É ENTRE 40% E 50% NA MISTURA ÓLEO + ÁGUA...
Aí NÃO OCORREM PROBLEMAS como o da foto abaixo

Uma vez que o prejuízo já ocorrera restou a consciência tranquila pois EU não errei no processo de têmpera manual, além de todo o aprendizado que a experiência me deu... Então o jeito foi voltar pra bigorna e fazer peças novas... Com esperança de produzir coisas melhores. Nada como um bom dia de trabalho forjando pra espantar o azar... Eis o resultado. Todas são facas de 52100:


Quero agradecer aos amigos Ricardo Vilar, Emilcio e Francisco Ferrari que me ajudaram a entender o problema e a aprender com os meus erros.

Agradeço, também, aos Amigos pela paciência e por terem lido este post.

Espero que ajude em alguma coisa!

Um abraço a todos.