sábado, 18 de dezembro de 2010

Uma Paixão - Os Tomahawks!!!

Caros Amigos,

Tenho andado extremamente ocupado nesses dias. Parece que no final do ano  as premências aumentam o nosso tempo parece escoar e fugir ao controle rapidamente. Quando se consegue trabalhar intensamente, cedo ou tarde, o corpo pede descanso e não podemos fugir disso. Outras vezes as tarefas são tantas que só sendo o "multi-homem" pra dar conta de tudo... Isso enquanto tentamos aprender mais, não repetir erros antigos e, ainda, criar coisas novas.... Bem... É melhor assim pois, como dizia mamãe: "A cabeça vazia é oficina do Diabo"!!! E eu assino embaixo.

Por esses dias terminei um novo TOMAHAWK.

Eu chamo esses meus de "bird tomahawk". Eles nada mais é que um spike tomahawk cuja "cabeça" lembra um pássaro (pelo menos EU acho que lembra kkkk). Mas esses machados leves são peças que sempre exerceram um fascínio sobre mim desde criança, mas, depois de receber vários emails, percebi que não só eu tenho essa paixão. Por que será???

 Como "forjador" os trabalhos que tem uma certa "dificuldade" me atraem (eu sei!!! às vezes parece que tudo em cutelaria é difícil. Até é!!! Mas nem tanto assim).
Vejam bem... começar com uma peça ASSIM:
E finalizá-la ASSIM:

É bastante estimulante do ponto de vista da tarefa e do desafio...  mas, claro, DÁ MUITO trabalho!!!

Há várias maneiras de se fazer um tomahawk. Uma delas é começando de um tarugo. Apesar de consagrado acho que este método, em se tratando de cutelaria artesanal ATUAL, não permite uma gama maior de desenhos. Sem falar no fato de que, usando um martelo, a parte de furar, conformar o olhal e estrangular as pontas é facilitada pela forma original do martelo.... Mas enfim, é muito bom saber "como fazer":
Etapas de forjamento de um Hammer Tomahawk Antigo

Eu prefiro usar "martelos bola" que procuro, com afinco nas feiras livres da minha cidade. Quanto mais antigo mais acho interessante. O lado da "reciclagem" e da "transformação" são muito atraentes...

Aki no NE temos uma expressão que só quando comecei neste ofício é que vim enteder o seu real significado:

"Quente que só braguilha de Ferreiro"





O martelo, depois de recozido, é aquecido e começa a ser moldado. O olhal original também tem que ser remodelado. Pra isso eu uso uma ferramenta que parece uma cunhal elípitica. Já fiz cabos de encaixar por cima mas, atualmente, faço como nos martelos, que usam cabo de encaixar por baixo da peça. Depois de fixados no cabo sob pressão e com resina epóxi, fixo um pino transversal. Passei a agir assim depois de perceber que, nos meus martelos, foi a única maneira do machado não fugir do cabo... Fica bem seguro.

Depois de finalizado forjamento, normalização e recozimento, passa-se à usinagem da peça onde damos o "desenho" final da cabeça do Tomahawk. Após isso, vai ao forno de têmpera pra aquecer e, subsequentemente, ser resfriado bruscamente em óleo hidráulico (ou outro meio refrigerante adequado).
Eu prefiro temperar toda a peça. Após o revenimento e polimento é hora de fazer o cabo:
Eu "adotei" a Guajuvira como madeira "oficial" dos meus tomahawks. Mas não "qualquer" Guajuvira.
O fornecedor desse material é o Sr. Beto Braga de Novo Hamburgo (RS). Ele me foi indicado por um amigo que é colecidonador de cutelaria custom de alta qualidade. Posteriormente, em conversa telefônica, o Sr. Beto, me disse que sua guajuvira era a melhor do Brasil. Parece "papo de vendedor" mas ele escolhe com muito cuidado a madeira que compra e supervisiona o corte pessoalmente. Tudo visando o modo como os desenhos vão aparecer no desenho final. Quem faz cutelaria sabe como isso pode fazer um resultado sumente diferente. Eu recomendo com empenho os materiais do Sr. Beto Braga que, além de guajuvira tipo exportação, fornece diversas outras madeiras e materiais. Tudo com excelente qualidade:
Ao cortar a madeira de modo a maximizar os desenhos é muito importante pro resultado final!


O polimento e algumas mãos de óleo de linhaça fazem chegar nesse resultado.

O "desenho" do cabo foi escolhido pra dar uma pega confortável e, em tempo, ser um cabo bem robusto:

Contudo, pra mim , o grande apelo dessas peças é extremamente subjetivo. Quem quer tenha empunhado um tomahawk deve, talvez, ter tido esse mesmo sentimento de regressar no tempo. A uma época quando ter uma ferramenta/arma dessas à mão seria a diferença entre viver ou perecer. O machado, depois da faca, foi o instrumento que mais esteve presente na vida do homem. Desde o simples ato de cortar madeira às batalhas, muitas vezes épicas, travadas na antiguidade ele, o machado, deixou sua marca ao longo da História. O exército egípcio usou, durante muitos séculos, o machado como arma principal da infantaria e são bem conhecidos os relatos do uso em batalhas por parte dos povos nórdicos.

Bem.... minha tese é que, ao empunhar um tomahawk, escutamos um brado de batalha distante, perdido no tempo, de outras vidas, que nos faz lembrar que fomos guerreiros, fortes e destemidos. Que vencemos batalhas, ou morremos. Mas, sobretudo, que ENFRENTAMOS LUTAS que nos fizeram chegar até aqui...
Em alguns, este lado guerreiro é mais forte ou fraco, tudo depende do quanto o alimentamos ao longo das existências. Mas ele está lá em todos nós e sairá se for preciso. Um belo tomahawk me lembra disso!!!!
Mas, amigos, lembrem-se É APENAS UMA TESE:

Obrigado por lerem e que A Força esteja com vocês!!!!


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Falando um Pouco sobre FACAS DE CAÇA!!!!

Caros Amigos,




Recebi, com alegria, um convite do Tino pra escrever um pouco sobre FACAS DE CAÇA no blog dele (www.tinocoisasdomato.blogspot.com). Reproduzi aki o post pra quem não conhece aquele blog possa, também, ler um pouco do assunto. Espero que gostem.

Eu creio que existem, didaticamente, 3 GRUPOS nos quais podemos dividir as FACAS DE CAÇA:

HUNTERS -  São as facas utilizadas para tudo o que se refere a courear e esquartejar uma caça. São as "faz tudo", aquelas projetadas para trabalhar bem em todas as etapas de trabalho de uma carcaça.

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS:

1. Geometria de fio bastante aguda, preferencialmente com desbaste full flat,
2. Ponta aguda,
3. Cabo que proporcione excelente ergonomia nas mais diversas empunhaduras,
4. Laminas entre 4 e 8 polegadas de comprimento,
5. Podem ou não ter falso-fio, guarda, passador de fiel e finger grip no dorso.
Facas de caça de aço carbono 52100


Hunter de 52100 c/ lâmina drop point de 7"

SKINNERS E NESSMUKS - São as facas desenvolvidas especialmente para courear. Alguns caçadores mais requintados coream com uma skinner e esquartejam com uma hunter. 

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS:

1. Geometria de fio bastante aguda, preferencialmente com desbaste full flat,
2. Ponta rombuda (vista lateralmente), com cucuruto (aquela elevação após a ponta, parecida com a cabeça de uma baleia beluga - serve para abrir o ventre de uma caça, com o fio virado para cima, sem que a faca perfure a carcaça e consequentemente a glândula que estraga toda a carne)
3. Cabo que proporcione excelente ergonomia nas mais diversas empunhaduras,
4. Laminas entre 4 e 7 polegadas de comprimento,
5. Podem ou não ter guarda, passador de fiel e finger grip no dorso.
6. Não podem ter falso-fio.

Sknner de 4" - aço carbono
FACAS DE ESTOCAR OU ESPADAS DE CAÇA: São aquelas projetadas efetivamente para matar o animal, como por exemplo as facas de estocar javali que são usadas no sul do Brasil. Sua função é totalmente diversa das anteriores. 

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS:
1. Ponta bastante aguda mas com bastante resistência mecânica. Não uma ponta cortante (com fio) mas uma ponta perfurante. A melhor sugestão é uma drop point ou spear point que são agudas, mas fortes.
2. Geometria de fio aguda.
3. Cabo que confira segurança e conforto ao estocar, independentemente de conforto em outras empunhaduras.
4. Lâminas acima de 8 polegadas, podendo ter fuller, que confere grande resistência mecânica.
5. Devem ter falso-fio pois ele otimiza a perfuração;
6. Podem ter guarda, pois limita o contato entre a mão do caçador e a caça.
Exemplo de "javalizaeira" by Serapião


Quanto aos materiais utilizados nas lâminas dessas ferramentas tão versáteis, há possibilidade de se confeccionar excelentes lâminas tanto em aço carbono quanto em aço-inox. Cada material tem suas peculiaridades.

É possível forjar o aço carbono maximizando suas características mecânicas além do fato de se poder fazer, em tese, qualquer desenho (logicamente isso depende da habilidade do forjador). Sua retenção de fio e capacidade de corte são sobejamente conhecidas. Como expoentes desse material existem o 5160, o O1, 1095 e o 52100, pra não falar de muitos outros. Sua desvantagem é que requer uma manutenção criteriosa. Usuários descuidados que tenham o hábito de guardar suas facas sujas, normalmente, preferirão o aço inox.

O aço inox, por sua vez, praticamente só possibilita  a construção de lâminas por desbaste. Pela sua composição química, é necessário fazer o tratamento térmico em forno apropriado e, afirmam alguns, mesmo quando corretamente tratado não chega a ter o desempenho de corte obtido no aço carbono. Contudo há excelentes opções nesse aço tbm. O aço de referêcia dos inox é o 440 C e tenho usado bastante o aço Din 1.4116.
Faca de Aço inox DIN 1.4116

Portanto, cada usuário, diante das inúmeras possibilidades, poderá escolher a sua "fiel companheira" nas atividades de caça. Seja feita de aço carbono ou inox, o crucial é que a peça tenha boas características de construção. A pesquisa, critério e cuidado resultarão numa boa aquisição.

Agradeço a todos que, por ventura, tenham lido esse post e, ainda, ao Mestre Eduardo Berardo que, com sua orientação clara o objetiva, me ajudou a "firmar as idéias" sobre um assunto tão vasto.

Muito Obrigado!!!