sábado, 21 de agosto de 2010

Old Bowie - 30 cm de aço 5160

Caros Amigos,

Há alguns meses recebi a encomenda de uma Bowie forjada em aço 5160. Uma peça "old style" e com designe bem diferente do que costumo fazer. Lembrei-me logo das facas que via nos episódios do "Daniel Boone" (calma pois já eram reprises kkkk)
Trata-se de uma faca  Grande com 30 cm de lâmina forjada a partir de uma barra de 5160 c/ 1/4" de espessura. Pra mim a grande dificuldade de fazer facas deste tamanho é encontrar o equilíbrio entre o peso e o formato da faca. Por maior que seja a lâmina, eu julgo a leveza como sendo fundamental. Senão, ao primeiro golpe, o usuário já sente a dificuldade de usar faca repetitivamente.
O aço escolhido foi o 5160 pois o julgo "espetacular" pra facas grandes. Ao ser temperado gera dureza muito boas com uma ótima flexibilidade. Pode ser usado "sem dó".
A peça de coroa de cervo que usei pro cabo é peculiar. Esta, embora seja grossa demais pra maioria das facas, casou relativamente bem com o projeto. Mas usar coroas de chifre em facas geralmente não é fácil. O que parece bom separado do conjunto se revela, muitas vezes, bem difícil ao montar a faca considerando a harmonia geral do conjunto. Raramente se encontra uma coroa de cervo totalmente alinhada com o seu eixo central. Nessa, fiz o possível pra conservar as medidas originais uma vez que o material do cabo foi fornecido pelo cliente. Então...  foi necessário uma guarda adequada que não "pesasse" no look. Usei uma peça de 10 mm que foi esculpida de modo a servir de guarda e espaçador ao mesmo tempo.


O resultado final foi uma lâmina reta, com 30 cm, distal taper leve começando no ricaço com pouco mais de 5 mm. O clip é "curto" considerando o que é usualmente feito hoje (geralmente 1/3 da lâmina). 
O ricaço é largo pra combinar com espessura da cabo.

O desbaste é full flat. A lâmina foi temperada em forno e teve a dureza do dorso "quebrada" com o maçariço. O revenimento foi feito em dois ciclos de 1h cada. A bainha é de couro de búfalo.

Espero que gostem e obrigado por Olharem.
Voltem SEMPRE!

sábado, 14 de agosto de 2010

Hunters de 52100 by Serapião - Facas pra Caça.

Há alguns meses atrás comecei um trabalho bem difícil. Fazer facas hunters com características bem parecidas e específicas. Teriam de ser facas forjadas de 52100, com 5" de lâmina, com guarda e pomo de inox. Além do cabo ser de violeta do Pará c/ espaçadores de chifre de cervo.
As peças inciais foram forjadas juntas uma vez que seriam um par.
Fazer projetos "geminados" é sempre bem difícil. É algo que não vou esquecer em futuras encomendas.
Esse trabalho ainda teve um grande fator complicador. Uma dessas peças se perdeu "no causo do polímero pra têmpera"... que aliás me custou 5 ótimas peças... Então... tive que fazer outra do zero....

Facas hiden-tang com este tipo de cabo: madeira, espaçadores, guarda e pomo dão muito trabalho por causa dos ajustes e pelo fato de ser necessário soldar um parafuso na tang assim como um porca na peça que será o pomo. Felizmente, eu adquiri um maçarico de oxi/glp que tem facilitado (um pouco) o trabalho.

Como resultado fiz 3 peças sendo duas hunters de características bem semelhantes de 52100 com 5" de lâmina, têmpera seletiva e acabamento com percloreto. Os cabos são de violeta do pará com chifre de cervo.
De lambuja, com a 1a hunter que perdi. Fiz essa "capa-grilo" com cabo de jacarandá. As bainhas serão tipo "Saco".

Espero que gostem e Obrigado por olharem o meu trabalho.

Um abraço a todos.

FIGHTER BY SERAPIÃO - A FACA DE LUTA!!!

Caros Amigos,

As "FIGHTERS" - facas de combate - sempre exerceram um grande fascínio sobre mim. Já li bastante a respeito e, principalmente, sobre as facas "clássicas" como a sykes-farbain, a rex-apllegate, a kabar e a mark II. Sem falar nas adagas medievais, kukris, kris e outras peças que adquiriram fama pelas suas características peculiares e eficiência comprovada. Sempre haverá divergências sobre qualquer tema. Sobre facas não poderia ser diferente... Contudo decidi fazer a minha FIGHTER.


Tentei fazer uma faca que reunisse um somatório de características que a tornasse eficiente em combate e, ao mesmo, tempo com uma "roupagem" que se harmonizasse pra criar uma bela peça.
Optei pelo aço carbono pois a peça seria forjada. Parti de uma lima de 8 mm tomé fetera cujo aço é o 1070.
Creio que uma faca de combate deve ser relativamente espessa mas não em demasia. Deve ter um cabo com ergonomia suficiente pra "prender" a faca na mão. Deve ter um pomo que amplia a capacidade da faca de ser usada como instrumento contundente. Comprimento de 7" ou 8" pois com essa medida é capaz de antingir partes importantes da anatomia mesmo de opositores de compleição robusta ou protegidos por roupas pesadas. Ponta penetrante com um contra-fio adequado, desbaste full-flat pela sua conhecida capacidade de corte. Têmpera seletiva. A guarda tanto pode ser "dupla" quanto "simples". O projeto Inicial era esse e eu utilizaria "madeira estabilizada". Contudo me chegou às mãos uma linda rádica de jacarandá da Bahia (da Bahia mesmo) e resolvi aproveitá-la. Esta rádica veio das mãos do Ian Vinhas que detem exemplares excelentes desse material.

Como eventualmente acontece, o projeto foi alterado. No lugar da guarda simples optei pela dupla que dá um ar mais clássico e provê uma proteção a mais pra mão que empunha a faca.
O resultado foi uma faca de 8", com têmpera seletiva na lâmina de 5,5 mm de espessura que foi oxidada à frio. O cabo é de Rádica de Jacarandá c/ papel vulcanizado vermelho. A guarda e o pomo são de inox.  A bainha é de couro de búfalo forrado com couro de canela de avestruz.


Obrigado por Olharem e espero que tenham gostado.
Um abraço a todos.

domingo, 1 de agosto de 2010

Um novo amigo que recebi na minha casa e oficina!!!!

Caros Amigos,

Nesse final de semana tive o prazer e honra de receber em minha casa e oficina pra um "workshop" um novo amigo pra compartilhar um pouco do que sei e aprender mais.
 O amigo Roberto Lisboa é proveniente de Natal-RN e um apaixonado por cutelaria. Veio pra ver, aprender e forjar peças nos moldes que eu aprendi com o pessoal da SBC e cuteleiros do quilate do Ricardo Vilar e demais cuteleiros experientes ligados a Sociedade Brasileira dos Cuteleiros.

A minha proposta nesses "workshops" é tentar ensinar e mostrar informações importantes pra quem deseja entrar no mundo da cutelaria de excelência (no qual eu, insistentemente, tento entrar kkkkkk)

São abordados os temas de metalurgia, características dos aços empregados em cutelaria, tratamentos térmicos, forjamento, desbaste, acabamentos, desenhos, geometria de lâmina e demais assuntos correlatos à cutelaria.
Mas o enfoque é FORJAR!

Tudo é feito com uma abordagem a mais prática e acessível possível, tentando fazer com que o "aluno" absorva o maior volume de informações no momento e as use na sua oficina futuramente.

O método de instrução que adoto é a explanação teórica seguida da prática (por demonstração) que, em seguida, o aluno com supervisão, passa a executar.

Já na sexta-feira, depois da parte teórica de praxe, começamos o forjamento de peças. Sempre inciando por facas básicas como as clássicas hunters.




O aço escolhido pra confecção de todas as facas foi o 5160.  O 5160 (norma SAE) é uma aço que possui 0,60% de carbono na liga, é bastante tolerante com erros de forjamento e têmpera, fácil de moldar e, ainda, possibilita a construção de lâminas excepcionais cuja capacidade é excelente. Embora haja uma certa "preferência" pelo 52100 aki no Brasil, o 5160 tem características bastante atraentes. Nos EUA ele é, inclusive, uma aço mais caro que o 52100 e nas provas de corte geralmente as lâminas de aço são as vitoriosas.

Se vc vai forjar, oS óculos, avental de couro e luvas são equipamentos muito importantes. A ausência deles pode facilitar a ocorrência de acidentes sérios. Lembre que todo os processos de forjamento envolvem, no mímino, AÇOS INCANDESCENTES. Então USE EPI´s sempre!

No processo do final de semana foram produzidas as lâminas abaixo que, a rigor, são do aluno. Eu geralmente guardo uma peça pra mim como recordação que depois  finalizo e exibo aki

Acho mais didático, para o iniciante, forjar facas pequenas (3 a 5") a partir de espessuras menores. Creio que a medida de 1/4" (pouco mais de 6 mm) é bem interessante e versátil. Mas após forjarmos algumas peças com 1/4" é bom mostrar como é forjamento de algo mais "parrudo". A escolha recaiu sobre uma barra de 5160 com 3/8" (aprox. 10 mm) da qual resultou essa bowie que está no topo da foto que tem algo em torno de 11" de comprimento.

Quero ressaltar que o Roberto Lisboa, apesar de ter praticamente nenhum conhecimento pregresso sobre forjamento revelou uma boa grande dose de tenacidade e habilidade. Após a demonstração conseguiu fazer suas peças praticamente sozinho. Provavelmente logo teremos outro forjador com oficina aki pelos lados do Nordeste!

Desta vez tive oportunidade de registrar FOTOGRAFICAMENTE uma etapa crucial do aprendizado da cutelaria.

Muito se fala sobre "grão" do aço e este é, de fato, um conhecimento extremamente relevante mas muito subestimado. De nada adianta fazer a faca mais linda e harmônica se no processo de forjamento, têmpera e revenimento  foram cometidos erros que levaram à formação de um grão inadequado à uma boa faca.

Uma das finalidade do forjamento é "refinar" o grão do aço. Deixá-lo menor e mais adequado às tarefas que irá desempenhar. É preponderante que o cuteleiro/forjador conheça as características do aço que usa assim como que domine as técnicas de tratamentos térmicos usados no forjamento, têmpera e revenimento.



A questão mostrada é a "ALTERAÇÃO" radical que o calor na medida errada pode produzir na estrutura do metal.
Utilizei uma lima (aço 1095) como corpo de prova. Esta foi aquecida ACIMA DO PONTO CRÍTICO (ponto de têmpera) e resfriada no óleo hidráulico. Em suma, a peça foi superaquecida e posteriormente quebrada.
Em seguida foi feita a normalização do corpo de prova e, logo depois, uma nova TÊMPERA NA TEMPERATURA CORRETA, seguida de uma nova quebra.

O resultado pode ser facilmente vísto na diferença do "grão" do aço na foto abaixo. Numa o grão está "enorme" e bem visível. Na outra a estrutura é fina e homogênea. Esta estrutura homogênea é mais aprimorada ainda pelo revenimento bem feito. O DESCONHECIMENTO dessa informação fatalmente leva à construção de lâminas ou ferramentas de qualidade muito inferior à obtida com os procedimentos corretos de manuseio do aço.

Como "curiosidade" decide mostrar como se forja um tipo bem peculiar de faca, a "rat tail". Trata-se de uma peça composta, unicamente, de aço forjado onde a "empunhadura"  é moldada a quente a partir da tang bem alongada. Requer alguns cuidados e uma certa habilidade... As rat tails, diz a lenda, eram facas característicamente domésticas dos povos nórdicos, geralmente usadas pelas "Sras. Vickings" em suas atividades cotidianas. São facas divertidas de fazer onde podemos "brincar" com o aço incandescente...

O Roberto Lisboa demonstrou uma cortesia singular para com a minha família. Mesmo tendo vindo de ônibus de Natal se deu ao trabalho de trazer alguns frutos do mar de excelente qualidade. Como gentileza se paga com gentileza. Aproveitamos o processo didático pra levar a termo esta rat tail que lhe foi dada como lembrança que, espero lhe sirva muito bem.

A bainha é de couro de búfalo com cobertura de cascavel (dos EUA!!!)

Espero que tenham gostado deste post e obrigado pela paciência ao lerem!!!

Um abraço a todos e uma boa semana